Angolanos consideram aumento do combustível "um assalto"
- 04/07/2025
Surpresos pelo aumento do preço do litro do gasóleo, que desde as primeiras horas de hoje passou a custar 400 kwanzas (0,37 euros), contra os anteriores 300 kwanzas (cerca de 0,28 euros), os habitantes de Luanda anteveem dias piores com os principais produtos e serviços a ficar mais caros.
Na ronda feita hoje pela Lusa, nas principais paragens e postos de abastecimento de combustível da capital angolana, automobilistas, taxistas, mototaxistas e vendedores ambulantes, reprovaram, na sua maioria, a medida e fizerem críticas às políticas do governo.
"Isto é um assalto aos nossos bolsos (...) [esta decisão] precisava de ser anunciada e quanto antes melhor, não é assim de repente, imagine quantas pessoas temos com táxi a gasóleo", desabafou Bernardo Cassoma.
À Lusa, enquanto abastecia a sua viatura no posto de abastecimento da Sonangalp, Avenida Comandante Gika, centro de Luanda, Cassoma, que faz serviço de táxi personalizado há cinco anos, considerou que o aumento do combustível vai "matar" os cidadãos.
"Ainda há pouco subiram as propinas das escolas e antes de pensar já entra uma outra! O que é que estão a fazer connosco? Querem nos matar, é simplesmente isso que tenho a dizer", afirmou, antevendo mais dificuldades para garantir "o pão" da sua família.
Faustino Lopes, automobilista de 50 anos, classificou o novo preço do litro do gasóleo uma medida que vai agravar a já difícil condição de vida dos angolanos, receando que os preços da corrida do táxi aumentem para o dobro.
Considerou, por isso, que vêm aí dias difíceis para os angolanos, sobretudo os que dependem dos táxis particulares para circularem de casa para o serviço e vice-versa.
"Pedimos aos nossos governantes para verem também a situação que o povo vive e como estão as condições, porque não estamos a ser ajudados em nada e com essa subida dia após dia. Está mesmo complicado", lamentou ainda Bernardo Cassoma.
À bordo da sua motorizada, Orlando Morais, mototaxista, manifestou-se surpreendido pela nova tarifa do combustível e defendeu que a decisão deveria ter sido antecedida de ações de concertação com taxistas e de mototaxistas, visando acautelar contestações.
"Essa situação pode criar manifestações, porque as coisas estão a subir de dia para noite, o combustível sobe e, então, é muito complicado", atirou.
Na Avenida Deolinda Rodrigues, frente ao posto de abastecimento do Atlético, gerido pela Sonangol, encontramos Marlene Salvador da Silva, vendedora ambulante de café que prevê "dias piores", sobretudo por causa da corrida de táxi que acredita que venha a subir.
Com uma garrafa térmica na mão e trajada com uma bata de cozinha, onde exibia os produtos que vende, sobretudo aos automobilistas e transeuntes, Marlene receia que os seus custos diários de transporte venham a dobrar, considerando estar-se diante de uma situação "complicada".
"Onde é que vamos parar, isso é complicado! Para vir vender gasto [com o táxi] 800 kwanzas (0,74 euros) agora quanto é que vou pagar? Isso está mal, vamos viver como assim?", questionou a vendedora de 32 anos.
Miguel Agostinho de 43 anos, ao volante do seu "azul e branco", como são conhecidas as viaturas de serviço de táxi particular, também disse à Lusa que ficou surpreendido com a subida do litro do gasóleo e fez críticas ao governo.
"Olha, para ser sincero nem sabia disso [subida do combustível], acredito que este é um país que está a ser mal governado, porque não se acredita que da noite para o dia as coisas mudam, a pessoa dorme e quando acorda assusta, já aconteceu algo de repente", disse.
Na via há quase cinco anos, Miguel diz que a viagem de táxi deve aumentar, porque, justificou, doravante vai passar para um gasto diário de 8.000 kwanzas (7,4 euros) para abastecer a viatura contra os anteriores 6.000 kwanzas (5,5 euros).
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