Comando Vermelho. Como se formou a maior organização criminosa do Brasil?
- 29/10/2025
Mais de 100 pessoas morreram, incluindo quatro polícias, e outras 113 foram detidas durante a megaoperação mais letal de sempre no Brasil. A operação juntou cerca de 2.500 polícias e centrou-se nos complexos de favelas da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, com o objetivo de prender os líderes do Comando Vermelho. Mas, afinal, o que é e como se formou esta organização criminosa?
O Comando Vermelho, também conhecido como CV, é uma das organizações criminosas mais antigas e influentes do Brasil - foi formada na década de 1970 por reclusos do Instituto Penal Cândido Mendes, em Ilha Grande, onde estavam presos comuns e presos políticos durante a Ditadura Militar.
"O Comando Vermelho nasce no interior dos presídios, no coração do Estado. Na convivência com as pessoas presas pela Lei de Segurança Nacional. Inicialmente, era chamado de Falange da Segurança Nacional. Depois vira Falange Vermelha. E, anos depois, a imprensa vai nomear como Comando Vermelho (CV)", explicou a socióloga Carolina Grillo, da Universidade Federal Fluminense, à BBC.
Um dos fundadores foi William da Silva Lima, conhecido como Professor, que queria uma organização para combater a tortura e os maus-tratos na prisão. No livro '400x1: Uma história do Comando Vermelho', o fundador contou que a organização "era uma forma de comportamento" para enfrentar as más condições da prisão e impunha regras de convivência entre os reclusos.
William da Silva Lima entrou Instituto Penal Cândido Mendes em 1971, após ter sido condenado a mais de 95 anos de prisão por crimes como assaltos a banco, extorsão e sequestro. Dentro do sistema prisional, atuava como representante dos reclusos e era responsável por elaborar ofícios e cartas para as autoridades.
Segundo o Estadão, a convivência entre os presos políticos e os presos comuns fez com que a organização procurasse alternativas criminosas lucrativas, sobretudo após a Lei da Anistia, de 1979, que perdoou crimes políticos cometidos entre 1961 e 1979.
Uma das apostas foi o tráfico de estupefacientes, numa altura em que os cartéis da Bolívia e da Colômbia procuravam novos mercados para a exportação de cocaína.
Numa tentativa de enfraquecer o Comando Vermelho, os líderes foram transferidos para diferentes prisões. No entanto, o efeito foi o oposto. Os líderes passaram os seus ideais para outros reclusos e o grupo ganhou ainda mais força.
O grupo, que começou como uma rede de proteção entre presos, acabou por se transformar numa das maiores organizações criminosas do país, estando atualmente envolvido em crimes de tráfico de estupefacientes, contrabando, sequestros, homicídios e outros crimes violentos.
O seu centro de operações situa-se no estado do Rio de Janeiro, onde controla algumas comunidades da cidade, embora tenha presença em grande parte do Brasil, especialmente na região da Amazónia.
A facção é conhecida pela sua estrutura hierárquica rígida, com líderes dentro e fora das prisões, e pelo uso da violência para manter o controlo territorial e disciplinar membros e rivais.
Mais de 130 mortos, mas "só" 4 polícias. Rio de Janeiro defende operação
O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro considerou que a megaoperação contra o Comando Vermelho teve um "dano colateral muito pequeno", apesar de terem morrido mais de 130 pessoas. Já o governador do estado defendeu que, "tirando a vida dos policiais" e dos 4 civis que morreram, a operação "foi um sucesso".
Márcia Guímaro Rodrigues | 16:37 - 29/10/2025Leia Também: Guterres pede "investigação imediata" a megaoperação no Rio de Janeiro
