Crimeia está no centro das tensões desde 2014. Os pontos essenciais

  • 25/04/2025

O presidente norte-americano, Donald Trump, defendeu hoje que a Crimeia "ficará com a Rússia", prosseguindo a narrativa de Washington de que Kyiv deverá preparar-se para ceder território num acordo com Moscovo, que invadiu o país vizinho em fevereiro de 2022.

 

Esta possibilidade é considerada inaceitável pelo líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, que Trump acusa de ser um entrave a um entendimento que já terá negociado com o Kremlin.

A anexação da Crimeia em março de 2014 já tinha desencadeado as primeiras sanções contra a Rússia e um aumento da tensão entre Moscovo e as principais potências ocidentais, incluindo os Estados Unidos.

Eis alguns pontos essenciais sobre o território em disputa:

Pomo da discórdia

Famosa pelas suas praias no mar Negro e com o seu passado greco-romano, bizantino, tártaro e turco, a Crimeia é sobretudo conhecida pelo 'resort' costeiro de Ialta, onde o destino da Europa foi selado em 1945 pelos líderes vitoriosos da II Guerra Mundial.

Em 1954, a Crimeia foi anexada territorialmente à Ucrânia Soviética por decisão do Presidente Nikita Khrushchev, ele próprio de origem ucraniana.

Na altura, tratava-se apenas de uma redistribuição administrativa, uma vez que tanto a Rússia como a Ucrânia eram parte da URSS.

Um ano após a dissolução da URSS em 1991, a recém-independente Ucrânia concedeu à Crimeia o estatuto de território autónomo, para evitar tendências separatistas da sua população predominantemente russófona.

Ao fim de anos de disputas, a Rússia obteve o direito de estacionar a sua frota de guerra no porto de Sebastopol, alargando assim a sua esfera de ação no Mar Negro e daí para o Mediterrâneo e Médio Oriente.

Apesar deste acordo, a questão da Crimeia envenenou durante anos as relações entre Rússia e Ucrânia e a autoridade central de Kyiv foi frequentemente desafiada por algumas personalidades regionais.

A anexação de 2014

Depois de as autoridades pró-ocidentais terem chegado ao poder na Ucrânia, no desfecho de vários meses de protestos contra a influência do Kremlin na praça Maidan, na capital ucraniana, eclodiram confrontos na Crimeia, em fevereiro de 2014, entre apoiantes de Moscovo e de Kyiv.

Um comando pró-Rússia fortemente armado tomou então o parlamento, apoiado por milhares de homens fardados espalhados pela península.

Estes militares, mascarados e sem insígnias, que ficaram conhecidos como os "homenzinhos verdes", rapidamente tomaram o controlo de edifícios públicos e cercaram bases militares ucranianas.

O presidente russo, Vladimir Putin, admitiu mais tarde que eram soldados russos.

Em março de 2014, a Rússia realizou um referendo sobre a anexação da Crimeia, cujo resultado --- 97% "sim", segundo Moscovo --- foi considerado nulo e sem efeito por Kyiv e pelo Ocidente, rejeitando qualquer legalidade a esta consulta.

Até à data, apenas foi reconhecida por alguns estados, como o Afeganistão, Cuba, Coreia do Norte, Quirguistão, Nicarágua, Sudão, Síria e Zimbabué, mas não pela China ou por aliados de Moscovo, como a Bielorrússia ou o Cazaquistão.

A União Europeia, os Estados Unidos, o Reino Unido e o Canadá adotaram então sanções iniciais contra a Rússia, sob a forma de congelamento de bens, embargos setoriais e proibição de investimentos na Crimeia.

Crimeia desde 2014

A Crimeia, que representa 4,5% do território da Ucrânia, foi integrada no sistema territorial russo em 2014, tornando-se numa república autónoma com o seu próprio governo e instituições subordinadas a Moscovo.

A cidade de Sebastopol recebeu um estatuto especial, juntamente com Moscovo e São Petersburgo.

O rublo substituiu a hryvnia ucraniana e a península alinhou o seu horário com Moscovo, enquanto as empresas russas, incluindo bancos e operadores telefónicos, se estabeleceram na região.

O turismo ocidental e ucraniano desapareceu, sendo substituído por uma torrente de russos e bielorrussos.

As autoridades locais estão a distribuir em massa passaportes russos à população, enquanto os tártaros da Crimeia, uma minoria muçulmana que votou esmagadoramente contra a anexação, são alvo de repressão.

Em 2016, o Mejlis, o órgão representativo desta comunidade, foi declarado extremista, marcando o início de uma onda de prisões e exílios forçados.

Desde 2018 que a península está ligada à Rússia continental pela Ponte de Kerch, uma estrutura gigantesca com 19 quilómetros de comprimento.

Foi repetidamente alvo e danificada pelas forças de Kyiv nos últimos três anos, à semelhança da Frota do Mar Negro estacionada na Crimeia, que a Ucrânia reclama ter eliminado 40% da sua capacidade.

O atual ministro da Defesa ucraniano, Rustem Umerov, é um tártaro da Crimeia.

Moeda de troca

Numa entrevista à revista Time, realizada na terça-feira e hoje divulgada, o presidente norte-americano defendeu que a Crimeia "ficará com a Rússia" e que o homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, "compreende isto".

Trump justificou os seus argumentos com a prolongada presença russa no território.

"Eles [russos] já tinham os seus submarinos lá muito antes de qualquer período de que estamos a falar, há muitos anos. A população fala principalmente russo na Crimeia", sustentou, insistindo que o território "foi dado por [Barack] Obama, não foi dado por Trump", numa alusão ao ex-Presidente democrata, que estava no poder na Casa Branca em 2014.

O presidente norte-americano disse acreditar que "ambos os lados querem a paz, mas precisam de se sentar à mesa", lamentando uma espera que se prolonga "há muito tempo".

Ao mesmo tempo que se referiu a "uma grande pressão sobre a Rússia", advertiu que "a Ucrânia também precisa de querer chegar a um acordo" e defendeu que Moscovo já fez "uma grande concessão" ao abdicar de controlar todo o país vizinho, numa sugestão de que pretende forçar Kyiv a ceder parte do seu território.

O presidente russo, Vladimir Putin, e o enviado da Casa Branca, Steve Witkoff, discutiram hoje no Kremlin a possibilidade de negociações diretas entre a Rússia e a Ucrânia para chegar a uma solução pacífica para o conflito.

Leia Também: Trump diz que Crimeia "ficará com a Rússia". "População fala russo"

FONTE: https://www.noticiasaominuto.com/mundo/2774347/crimeia-esta-no-centro-das-tensoes-desde-2014-os-pontos-essenciais?utm_source=rss-mundo&utm_medium=rss&utm_campaign=rssfeed


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