"Messias do TikTok" venceu as presidenciais da Roménia, mas não convenceu
- 11/03/2025
Georgescu, um populista de extrema-direita pouco conhecido, obteve 23% dos votos em 24 de novembro passado, apesar de as sondagens lhe terem atribuído intenções de votos de apenas 6% dos eleitores.
O resultado surpreendente deixou muitos observadores políticos desconfiados e o Tribunal Constitucional acabou por anular a eleição considerando ter havido violações eleitorais e interferência russa.
Os procuradores romenos iniciaram, entretanto, uma investigação criminal contra Georgescu, acusando-o de ilegalidades no financiamento da campanha eleitoral, apoio a grupos fascistas e outros crimes.
As eleições foram reagendadas para maio, e, apesar de Georgescu insistir em candidatar-se, o tribunal não decidiu se permite a sua participação na votação.
O homem por quem os muitos manifestantes de extrema-direita ameaçaram provocar "uma revolução" na Roménia nasceu em Bucareste em 1962 e tem um percurso de vida tão invulgar como a situação que causou no país.
Casado e com três filhos, é doutorado em pedologia, o estudo dos solos no seu ambiente natural, mas defende que as alterações climáticas são "uma farsa" para "assustar as pessoas" e garante que o Homem nunca pisou a Lua.
Na década de 1990, ocupou diferentes cargos no Ministério do Ambiente da Roménia e, apesar de também ter sido diplomata entre 1999 e 2012 - quando representou a Roménia no comité nacional do Programa da ONU para o Ambiente - só emergiu da obscuridade durante a pandemia de covid-19, quando espalhou nas redes sociais que as vacinas eram uma forma de controlar pessoas.
"A ciência é Jesus Cristo e nada mais" foi um 'slogan' recorrente das suas publicações na altura da pandemia, tendo então mergulhado num lago gelado para se gabar da força do seu sistema imunitário e mostrar que não eram necessárias vacinas.
Anteriormente ligado ao partido de extrema-direita Aliança para a Unidade dos Romenos (AUR), foi afastado em 2022, depois de defender Corneliu Zelea Codreanu, líder do movimento fascista Guarda de Ferro no período entre guerras, e o marechal fascista Ion Antonescu.
Apoiante da igreja ortodoxa romena, gerou controvérsia por descrever os líderes fascistas e nacionalistas romenos das décadas de 1930 e 1940 como heróis nacionais.
Recentemente tornou-se um defensor do Presidente russo, Vladimir Putin, considerando-o como "um homem que ama o seu país" e classificou a Ucrânia como "um Estado inventado", mas afirma não ser pró-Rússia.
Muitos observadores atribuíram o sucesso de Georgescu à sua conta na rede social TikTok, que tinha 4,3 milhões de 'gostos' e 679 mil seguidores, mas cuja popularidade "explodiu" nas semanas que antecederam a primeira volta das eleições.
De acordo com um relatório do instituto de análise Expert Forum, sediado em Bucareste, a conta de Georgescu no TikTok cresceu inesperadamente em dois meses e registava, a 18 de novembro -- seis dias antes das eleições - 92,8 milhões de visualizações.
Um número que o 'think tank' considerou demasiado súbito e artificial, mas que, uma semana depois, tinha aumentado ainda mais rapidamente, acumulando mais 52 milhões de visualizações.
A análise do instituto referiu, na altura, que o tema mais referido por Calin Georgescu no TikTok antes das eleições era a paz, mais precisamente a necessidade de a Roménia deixar de apoiar a Ucrânia para não envolver o país na guerra.
Desde a anulação das eleições de novembro, Georgescu tornou-se uma celebridade da extrema-direita mundial, recebendo apoio de figuras proeminentes como o vice-presidente norte-americano, JD Vance, e de Elon Musk, conselheiro do Presidente dos EUA, Donald Trump.
As suas posições políticas incluem o apoio aos agricultores romenos, a redução da dependência das importações e o aumento da produção local de energia e alimentos.
Quer também estabelecer um modelo de representatividade política alegadamente baseado na democracia participativa, em que "a Verdade, a Liberdade e a Soberania são os eixos de valores" da Roménia.
Em termo de política externa, Georgescu demonstrou ceticismo tanto em relação à NATO, a aliança militar que une os EUA à Europa, como à União Europeia, duas instituições das quais Roménia faz parte.
Numa entrevista à Associated Press, em dezembro, Georgescu disse que as alianças ocidentais da Roménia serão mantidas desde que "sirvam à soberania do país e nada mais".
É também um autoproclamado apoiante de Donald Trump, afirmando que o Presidente dos EUA "sabe o que quer".
"Ama o seu povo e coloca a América em primeiro lugar, tal como eu coloco a Roménia em primeiro lugar... temos a mesma ideologia", referiu.
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