Papa já foi sepultado. Do luto de nove dias ao Conclave, o que se segue?
- 26/04/2025
O Papa Francisco foi sepultado, este sábado, na basílica romana de Santa Maria Maior, em Roma, após três dias de velório público. Com as cerimónias fúnebres terminadas, o que se segue? Há dois momentos importantes: o ‘Novendiales’ e o conclave.
Na quarta-feira, o Vaticano anunciou que o luto de nove dias dedicado a Francisco, período conhecido como 'Novendiales', começa este sábado e termina a 4 de maio, antecedendo o conclave do Colégio Cardinalício.
A nona e última celebração em memória de Francisco acontecerá às 17h00 locais (16h00 em Lisboa) do próximo dia 4, na Basílica de São Pedro, e será presidida pelo cardeal francês Dominique Mamberti.
As celebrações do 'Novendiales' exigem a participação de cardeais que vão oficiar o rito, como o decano do Colégio Cardinalício, Giovanni Battista Re, que presidiu ao funeral, e o atual secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, pelo que o conclave só pode ter início em data posterior.
O que acontece após o luto de nove dias?
Decorrido o prazo de nove dias, o conclave dos cardeais eleitores pode ser convocado para escolher um sucessor, num prazo que não poderá exceder os 20 dias a contar da morte do papa, pelo que o início está previsto para ocorrer entre 5 e 10 de maio.
No total, o Colégio Cardinalício tem 252 elementos, 135 dos quais são eleitores (com menos de 80 anos). Esta lista inclui, pela primeira vez, quatro portugueses com poder de voto: Manuel Clemente, António Marto, Tolentino de Mendonça e José Aguiar.
Como é feita a escolha do próximo Papa?
A escolha de um novo Papa é feita com regras rígidas e absoluto segredo. A eleição no Conclave (do latim 'cum clavis' ou 'fechado à chave') está definida até aos mais ínfimos pormenores na Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, revista por João Paulo II em 1996, e é secreta.
O sistema de fechar os cardeais iniciou-se no Concílio Lyon II (1274), convocado pelo Papa Gregório X, e hoje os também designados "príncipes da Igreja" estão proibidos de trocar cartas, mensagens ou telefonar a alguém do exterior, assim como de ler jornais, ouvir rádio ou ver televisão enquanto durar a reunião, para evitar pressões.
A assembleia dos cardeais eleitores é precedida da missa 'Pro eligendo Pontifice' (para a eleição do Pontífice), na qual os cardeais pedem apoio espiritual na escolha do novo Papa.
Na tarde desse dia, os prelados dirigem-se em procissão solene para a Capela Sistina, onde decorre a reunião, invocando com o cântico 'Veni Creator Spiritus' (Vem Espírito Criador) a assistência do Espírito Santo.
No local do escrutínio, um por um e numa sequência predeterminada, juram com a mão direita sobre a Bíblia manter segredo sobre as discussões relativas à eleição, antes de se sentarem nos lugares que ocuparão durante o Conclave.
Os cardeais terão ainda de ouvir um discurso sobre a escolha que vão fazer e esperar que o eclesiástico que o fez e o Mestre das Celebrações Pontifícias abandonem a sala à ordem deste 'Extra omnes' ('Todos fora', os que não participam no escrutínio).
As portas da sala são fechadas, ficando sob a proteção da Guarda Suíça, o exército do Vaticano, e os cardeais podem então a sós dar início à eleição.
Antes da realização do Conclave, todos os elementos do Colégio Cardinalício, terão discutido o estado da Igreja e definido o perfil do novo Papa, que deverá ser um bom "pastor de almas", teólogo e diplomata, além de falar várias línguas, em primeiro lugar o italiano, a língua oficial do Vaticano.
Os cardeais não podem declarar-se candidatos, só podendo ser considerados como tal pelos seus pares durante a eleição, e também não lhes é permitido chegarem a acordos ou fazerem promessas, absterem-se ou votarem em si mesmos.
Para que seja eleito o novo Papa é precisa uma maioria de dois terços, estando prevista a realização de duas votações de manhã e duas à tarde, após cada duas delas os boletins de voto são destruídos num fogão instalado na Capela Sistina e a cor do fumo da queima indica o resultado, preto se o escrutínio continuar, branco se tiver sido escolhido o novo líder dos católicos.
Caso ninguém tenha sido eleito nos primeiros três dias do Conclave está previsto um dia de reflexão, que terá de ser seguido de sete outras votações inconclusivas antes de passar a ser necessária apenas uma maioria absoluta.
Antes da divulgação pública do resultado da eleição realiza-se o último ato do Conclave: questionar o escolhido sobre se aceita o cargo - sabendo que a Constituição Apostólica indica que deve "submeter-se humildemente à vontade divina" - e qual o nome por que pretende ser conhecido.
O cardeal argentino jesuíta Jorge Mario Bergoglio, o primeiro Papa da América Latina, escolheu o nome de Francisco numa homenagem a São Francisco de Assis, o santo dos pobres.
Aquele que será o 267.º Papa terá depois de colocar as vestes brancas próprias do cargo e dirigir-se à sacada da Basílica de São Pedro, onde o primeiro cardeal dos diáconos já anunciou 'Habemus Papam' (Temos Papa), para saudar os fiéis reunidos na praça em frente e dar a bênção 'Urbi e Orbi' (à cidade [Roma] e ao mundo).
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