Pequim dá voz a crítica sobre venda de portos do Panamá a empresa dos EUA
- 14/03/2025
"Não é uma 'prática comercial normal'", sublinha o texto do Ta Kung Pao, uma publicação de Hong Kong, controlada pelo Gabinete de Ligação do Governo Central de Pequim naquela região administrativa especial, que termina com uma ameaça velada ao CKH, fundado pelo bilionário, Li Ka-shing, 96 anos, o homem mais rico de Hong Kong.
Argumenta o Ta Kung Pao que o negócio conhecido no início do mês entre o CKH e os norte-americanos da BlackRock "é um ato hegemónico dos Estados Unidos, que utilizam o seu poder nacional para usurpar os direitos e interesses legítimos de outros países através de meios desprezíveis como a coerção, a pressão e o incentivo, e é uma política de poder sob a forma de 'comportamento comercial'".
Segundo o acordo, anunciado em 04 de março e avaliado em 22,8 mil milhões de dólares (21,03 mil milhões de euros), a CKH vende a um consórcio que inclui a BlackRock e a Terminal Investment Limited uma participação de 80% num conjunto de subsidiárias portuárias, que gerem 43 portos em 23 países, como Reino Unido, Alemanha, México e Austrália, no sudeste asiático e Médio Oriente, incluindo os portos em ambas as extremidades do Canal do Panamá, em Balboa e Cristobal.
Concluída sob os auspícios dos Estados Unidos em 1914, a rota marítima fundamental, que atravessa a América Central, tornou-se um dos alvos do Presidente norte-americano, Donald Trump, assim que regressou à Casa Branca em 20 de janeiro.
Por diversas vezes, Trump acusou a China de dominar as operações no canal e prometendo "tomá-lo de volta".
O comentário publicado pelo Ta Kung Pao sublinha essa sequência de eventos, recordando que Trump, logo após a tomada de posse, "acusou a China de controlar o Canal do Panamá, declarando em voz alta que os Estados Unidos iriam 'recuperá-lo' e, se necessário, não hesitariam em usar as forças armadas".
A publicação da administração chinesa em Hong Kong sublinha ainda que a notícia do negócio foi conhecida após a visita do secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, ao Panamá, e "na véspera do primeiro discurso de Trump ao Congresso".
"Terá sido apenas uma coincidência de timing? Qual era a natureza do acordo?", interroga o Ta Kung Pao.
O artigo evoca informação publicada em vários órgãos de comunicação internacionais, que deram conta da relação pessoal entre Donald Trump e o líder da BlackRock, Larry Fink, sublinhando que o executivo, "durante as negociações de aquisição, se deslocou à Casa Branca para informar Trump sobre a situação".
"Depois de o Canal do Panamá ser 'americanizado' e 'politizado', os Estados Unidos utilizá-lo-ão definitivamente para fins políticos e implementarão a sua própria agenda política, e o comércio marítimo da China estará definitivamente sujeito aos Estados Unidos", escreve o Ta Kung Pao.
"Uma vez que os EUA implementem meios como a restrição seletiva do fluxo e a 'sobretaxa política', o custo logístico e a estabilidade da cadeia de abastecimento das empresas chinesas enfrentarão grandes riscos", acrescenta.
"Se os Estados Unidos forem bem-sucedidos nos seus intentos, isso representará um golpe para a construção naval, o transporte marítimo, o comércio externo e até para a construção da 'Uma Faixa e Uma Rota' da China, e afetará diretamente a consolidação e o reforço do estatuto de Hong Kong como centro internacional de transporte marítimo e de comércio, ameaçando comprometer a ordem e a segurança normais do transporte marítimo e do comércio mundiais", descreve ainda o texto.
O comentário chega ao fim com uma ameaça velada, depois de classificar - dando voz a publicações na internet, de autores não identificados - a decisão da CKH como "uma jogada irrefletida e sem espinha dorsal, que visa o lucro, que esquece o que é correto, que ignora os interesses do país e a justiça da nação, e que trai e vende todo o povo chinês".
"Perante um acontecimento tão importante, a empresa em causa devia pensar duas vezes, pensar na natureza do problema e no que está em jogo, pensar na posição que quer assumir e de que lado quer ficar", sugere o texto reproduzido nos portais oficiais da administração chinesa em Macau e Hong Kong.
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