Cultura marítima avançada floresceu nas Filipinas há 35.000 anos
- 06/06/2025
Uma equipa da Universidade Ateneo de Manila apresentou na revista Archaeological Research in Asia uma grande quantidade de dados e materiais do Projeto Arqueológico de Mindoro, incluindo algumas das mais antigas evidências da presença de humanos anatomicamente modernos (Homo sapiens) no arquipélago filipino, em Mindoro Ocidental.
Mindoro, tal como a maioria das principais ilhas das Filipinas, exceto Palawan, nunca esteve ligada ao Sudeste Asiático continental, quer por pontes de terra, quer por camadas de gelo, e foi sempre necessário atravessar o mar para a alcançar.
Isto provavelmente impulsionou o desenvolvimento de tecnologias sofisticadas para navegar e sobreviver neste ambiente, noticiou na quinta-feira a agência Europa Press.
Diversos achados, incluindo restos humanos, ossos de animais, conchas e ferramentas de pedra, osso e concha, demonstram que os primeiros habitantes de Mindoro exploraram com sucesso os recursos terrestres e marinhos.
Há mais de 30.000 anos, já possuíam competências marítimas e técnicas de pesca específicas que lhes permitiam capturar espécies predadoras de águas profundas, como os bonitos e os tubarões, e estabelecer ligações com ilhas e populações distantes na vasta região marítima de Wallacea.
De particular interesse é a utilização inovadora de conchas como matéria-prima para ferramentas que datam de há mais de 30.000 anos. Isto culminou no fabrico de enxós a partir de conchas de moluscos gigantes (espécie Tridacna), datando de há 7.000 a 9.000 anos.
Apresentam uma impressionante semelhança com as conchas encontradas em todo o Sudeste Asiático insular e até na Ilha Manus, na Papua-Nova Guiné, a mais de 3.000 quilómetros de distância.
Os investigadores encontraram também uma sepultura humana na Ilha de Ilin, datada de há aproximadamente 5000 anos, com o corpo em posição fetal, coberto com lajes de calcário.
O método de sepultamento era semelhante a outros encontrados no Sudeste Asiático, sugerindo influências ideológicas e sociais partilhadas e uma crescente complexidade social numa vasta área, desde o continente até às ilhas distantes.
Os sítios arqueológicos em Mindoro forneceram provas de habitantes culturalmente sofisticados, adaptados tanto comportamental como tecnologicamente a ambientes costeiros e marinhos.
Em conjunto, estas descobertas sugerem que Mindoro e as ilhas filipinas próximas faziam parte de uma extensa rede marítima que existiu durante a Idade da Pedra e facilitou o intercâmbio cultural e tecnológico entre as primeiras populações humanas do Sudeste Asiático insular durante muitos milénios.
Ao documentar a habitação humana durante um longo período, com o surgimento de estratégias avançadas de subsistência e tecnologias marítimas, o Projeto Arqueológico de Mindoro não só preenche lacunas críticas no registo pré-histórico das Filipinas, como também redefine a importância da região na narrativa mais ampla da migração e adaptação humana nas ilhas do Sudeste Asiático.
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