Dissidentes russos pedem libertação de presos políticos em acordo de paz
- 04/07/2025
Um grupo de onze dissidentes russos escreveu uma carta aberta aos líderes mundiais a apelar para a libertação em massa de prisioneiros políticos russos e civis ucranianos como parte de um acordo de paz entre a Rússia e a Ucrânia.
"Nós, prisioneiros políticos russos, apelamos a todos os líderes internacionais que se preocupam com o sofrimento das pessoas por causa das suas crenças. Somos pelo menos 10.000 - prisioneiros políticos russos e reféns civis ucranianos. Todos nós somos punidos por uma coisa: por assumirmos uma posição cívica", lê-se na carta publicada pela agência de notícias Reuters.
Sublinhando que "os conceitos de justiça e equidade estão ausentes na Rússia de hoje" e que "qualquer pessoa que ouse pensar criticamente pode acabar atrás das grades", o grupo lembrou que a "legislação repressiva destinada a eliminar qualquer dissidência tem sido constantemente reforçada desde 2012".
"De 2018 a 2022, pelo menos 50 leis repressivas foram adotadas e, desde 24 de fevereiro de 2022, mais de 60 outras", indicaram os onze dissidentes, que frisaram que "não há absolvições em casos de motivação política" e a "crueldade das punições está a aumentar".
O grupo sublinhou que a "saúde e a vida dos prisioneiros estão em risco" e que "os prisioneiros políticos são, com mais frequência do que outros, mantidos em condições mais duras e privados da oportunidade de liberdade condicional". Além disso, a "prática de iniciar processos criminais adicionais com base em denúncias de outros condenados tornou-se comum".
Neste sentido, os dissidentes - que prometem não "perder a voz" nem "cair no esquecimento" - apelaram a "ambos os lados das negociações entre a Rússia e a Ucrânia para que realizem imediatamente uma troca de prisioneiros de guerra e civis de acordo com a fórmula 'todos por todos', incluindo reféns civis ucranianos".
O grupo pediu ainda a "libertação imediata e incondicional de prisioneiros políticos doentes que estão a morrer nas prisões russas" e apelou aos "políticos de diferentes países para criar condições para a libertação de todos aqueles que são perseguidos na Rússia por motivos políticos" e aos "políticos dos países democráticos que apoiem a luta dos russos e adotem resoluções em nome dos parlamentos, associações políticas e partidos".
"Exortamos os meios de comunicação de diferentes países a não permanecerem em silêncio e a cobrirem as atividades dos cidadãos russos que continuam a arriscar as suas vidas na luta pela liberdade e pela democracia", lê-se na carta.
Entre os onze signatários da carta está o antigo deputado Alexei Gorinov, 63 anos, que, segundo a Reuters, foi a primeira pessoa condenada, em 2022, no âmbito da lei que tornou crime a divulgação de "informações falsas" sobre as forças armadas russas.
Já a pessoa mais jovem a assinar o documento foi Darya Kozyreva, de 19 anos, condenada no passado mês de abril a dois anos e oito meses de prisão por usar grafite e poesia do século XIX para protestar contra a guerra na Ucrânia.
Além de Gorinov e Kozyreva, assinaram a carta Anna Arkhipova, Vladimir Domnin, Boris Kagarlitsky, Dmitry Pchelintsev, Andrei Trofimov, Ilya Shakursky, Alexander Shestun, Artem Kamardin e Azat Miftakhov.
Em fevereiro, na altura do aniversário da morte do opositor russo Alexei Navalny, a relatora especial das Nações Unidas para a situação dos direitos humanos na Rússia, Mariana Katzarova, alertou que as vidas de mais de 2.000 presos políticos na Rússia estão "seriamente ameaçadas" e pelo menos 120 deles estão em perigo iminente, nomeadamente devido ao estado de saúde.
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