Telefonema de Trump a Xi? Há "ansiedade" nos EUA mas China não vai ceder
- 06/06/2025
"O facto de o telefonema ter sido feito a pedido dos EUA mostra que é a China que está em vantagem e que existe crescente ansiedade em Washington", disse Lu Xiang, especialista da Academia Chinesa de Ciências Sociais, citado pelo ao Global Times, jornal oficial do Partido Comunista Chinês.
A imprensa oficial chinesa avançou que a conversa estava a decorrer antes de o próprio Trump a ter anunciado na sua rede social Truth Social, sublinhando que tinha sido o republicano a solicitá-la.
De acordo com Lu, Xi Jinping enviou a Trump uma mensagem clara: que a China "honra e respeita o que foi acordado" e que é Washington que deve "enfrentar a realidade e tomar decisões racionais".
O líder chinês pediu ao seu homólogo norte-americano que "aproveite ao máximo" o mecanismo de diálogo económico e comercial estabelecido no mês passado entre os dois países em Genebra, embora tenha sublinhado que devem "tratar-se de forma igual, respeitar as preocupações de cada um e procurar resultados mutuamente benéficos".
"Agora que existe um consenso, ambas as partes devem respeitá-lo. A China fez a sua parte após as negociações de Genebra. Os EUA devem reconhecer os progressos efetuados e deixar de tomar medidas negativas contra a China", afirmou.
Em maio, os dois países acordaram numa redução tarifária mútua, embora nos últimos dias Pequim tenha acusado Washington de não ter honrado o acordo, ao aplicar medidas de "supressão extrema", como o controlo das exportações de semicondutores e o cancelamento de vistos para estudantes chineses.
Os EUA acusaram a China de bloquear novas licenças de exportação de terras raras - Pequim controla 70% do mercado mundial - e de outros componentes essenciais para o fabrico de semicondutores e veículos elétricos, argumentando que as restrições de Pequim à venda destes materiais críticos constituíam uma violação das tréguas de Genebra.
Alguns analistas apontam para "estrangulamentos burocráticos" face à "enchente de pedidos" para obter as autorizações agora necessárias para importar terras raras da China, enquanto outros argumentam que Pequim ou compreende que não fazem parte do acordo de Genebra ou simplesmente não está disposta a abdicar dessa carta, pelo menos enquanto as negociações continuarem.
"Não deve haver mais dúvidas sobre a complexidade dos produtos de terras raras", disse Trump no Truth Social após o telefonema, sem entrar em detalhes.
Para Lu Xiang, os Estados Unidos "devem entender que correm o risco de se prejudicar" e, neste momento, "devem também estar conscientes da complexidade da desvinculação económica com a China".
"A China quer falar, mas não fará concessões sob pressão. A notícia positiva é que, ao conversarem, os dois líderes terão conseguido compreender melhor as principais preocupações um do outro na gestão das suas diferenças, o que ajudará a trazer mais estabilidade à relação bilateral", acrescentou.
Li Haidong, professor da Universidade de Negócios Estrangeiros da China, também salientou que estes contactos são "vitais para abrir caminho" para retomar as negociações.
"Washington tem sido incoerente, enquanto Pequim tem mantido uma estratégia clara e coerente", acrescentou o especialista, para quem "a China não tem qualquer intenção de se afastar dos Estados Unidos", mas tenciona dialogar em pé de igualdade.
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